Tradicionalmente conhecido por estar na dianteira dos investimentos TI, o setor financeiro desloca o eixo central de suas prioridades da infra-estrutura para a combinação de ações que tragam benefícios competitivos.
Fonte: Edição 455 - Computerworld
A tradição de ser líder em investimentos de TI não mudou no setor financeiro. Isso porque a transformação permanente está na essência das estratégias de boa parte das empresas que compõem esse segmento. Afinal, os gastos com tecnologia permitem alta velocidade de implantação das novas soluções e investimentos maciços em equipamentos de última geração. Com isso, garantem o desenvolvimento de novos sistemas e a aplicação de iniciativas que possam fazer a diferença aos olhos – e aos bolsos – dos clientes.
A satisfação dos clientes é o motor de várias novas iniciativas nos próximos meses entre as empresas do setor financeiro. De acordo com Mauro Peres, diretor de consultoria em finanças da IDC Brasil, a incorporação do acesso sem fio nas aplicações bancárias e de melhores ferramentas nas transações com o cliente, por exemplo, é hoje uma das principais estratégias na pauta de investimentos em TI do setor.
Apesar disso, muitas instituições ainda esperam pelo amadurecimento de certos sistemas para implantá-los. A pesquisa “Business Needs & Its Impacts on IT” – coordenada pelo executivo com 35 bancos brasileiros entre janeiro e fevereiro deste ano – mostra exatamente essa tendência de cautela com as novas soluções. Entre os bancos pesquisados, somente 20% consideram-se usuários de vanguarda das novas tecnologias, de maneira a esperar por maiores níveis de maturidade dos sistemas. “Principalmente os bancos pequenos e médios não podem se dar ao luxo de arriscar a utilização de uma determinada tecnologia capaz consumir toda a verba”, diz Peres.
Até mesmo o Banco do Brasil, um dos pioneiros na incorporação do chamado mobile banking, por exemplo, reconhece que ainda levará tempo para o formato de acesso às aplicações bancárias via telefonia celular se consolidar no País. “Acreditamos que o canal móvel atingirá a maturidade nos próximos três a quatro anos. Enquanto isso, a estratégia será investir para melhorar a experiência ao usuário”, aponta Glória Guimarães, diretora de TI da instituição.
O banco começou a encampar suas ações de marketing para popularizar os serviços móveis na última quinzena de março. Durante a fase piloto, contabilizou cerca de 500 mil operações móveis realizadas por mês. No entanto, o potencial do formato justifica os investimentos. Na avaliação da executiva, existe a expectativa de superação dos níveis atingidos com os serviços de internet banking, já que a penetração dos aparelhos celulares é maior entre a população em geral, comparada ao índice de acesso à rede.
Ainda nesse cenário de necessidade de avanço na infra-estrutura, mas cautela sobre o que e quando adotar, as etapas de planejamento e redesenho dos sistemas ganham peso de ouro na agenda de qualquer CIO do setor financeiro, especialmente nos bancos, onde estão sistemas praticamente históricos.
Essa é a realidade atual do Bradesco, que realiza o projeto de atualização batizado de TI Melhorias – mas que poderia muito bem levar o sugestivo nome de “40 anos em 6”. “Estamos reescrevendo toda a história dos sistemas de TI que construímos ao longo desses 40 anos”, aponta Laércio Albino Cezar, vice-presidente do Bradesco. De acordo com o executivo, o projeto foi iniciado em meados de 2003 e tem a meta de diagnosticar todas as atividades de TI, passando por processos, aplicações, ambiente operacional e infra-estrutura.
O plano, previsto para terminar apenas em 2009, já passou pela fase de diagnóstico e agora entra na fase de implementação. “Acredito que as maiores mudanças serão vistas na adoção de equipamentos, redes de comunicação e infra-estrutura, de maneira a atender as necessidades para as próximas décadas”, complementa. No projeto, serão consumidos nada menos do que 1,2 bilhão de reais.
Ainda em linha com as expectativas dos analistas, o Bradesco também aponta que a mobilidade é uma de suas prioridades atuais, principalmente no que diz respeito à experiência do cliente dentro das agências. O banco mantém dois projetos piloto em São Paulo com acesso 100% wi-fi e o uso de computadores de mão para a realização do atendimento ao cliente.
Além dos projetos que caracterizam inovação no atendimento aos correntistas, não saíram da baila as discussões em torno de projetos de adequação às normas regulatórias e melhorias de infra-estrutura física.
O departamento de TI do banco Santander Banespa, por exemplo, trabalha na readequação de seus processos para estar de acordo com a lei americana Sarbanes-Oxley até meados de 2007, no máximo. “Houve um esforço grande em relação aos processos, com a incorporação de melhores práticas de ITIL [Information Technology Infrastructure Library] e CMMI. Isso traz como conseqüência um patamar de aderência muito grande à Sarbanes”, ressalta Pedro Paulo Cunha, superintendente de tecnologia do banco.
Ao que indica Mauro Peres, da IDC, a experiência do Santander com as questões de adequação foge aos padrões do setor. Segundo o executivo, apesar de debatidas há anos, questões relativas a Sarbanes e Basiléia 2 devem ser consideradas com maior profundidade pelas instituições no ano que vem. “O que temos visto são muitos bancos deixando para cumprir os procedimentos mais perto do final do prazo mesmo, em meados de 2007”, ressalta o consultor.
Além das questões de governança, o Santander está empenhado atualmente em projetos de contingência de negócios, que buscam aumentar o índice de disponibilidade de suas operações. A estratégia vem após a instituição ter concluído seu projeto de integração com a infra-estrutura do Banespa. A integração começou em 2001, com a renovação tecnológica do parque e demandou mais de 2 bilhões de reais em investimentos e o trabalho de 800 profissionais.
Terceirização e segurança são outros dois assuntos que tendem a se manter firmes entre os projetos prioritários do setor financeiro, na avaliação de Daniel Eduardo Edelmuth, diretor de tecnologia da informação da Nossa Caixa. “Embora outsourcing não seja algo novo, consegue se manter nas discussões porque cada vez mais os bancos vêem vantagens em terceirizar os serviços que fogem de suas atividades principais”, enfatiza.
Em um de seus projetos mais recentes, a Nossa Caixa terceirizou seu parque de impressão com a CTIS e já contabiliza redução de custos de cerca de 40%. Na área de segurança, o banco mantém políticas de reforço a seus sistemas de detecção de intrusões nas transações realizadas via internet. Ainda na área de terceirização, os próprios fornecedores acreditam que ainda existe espaço grande para tais serviços. A TecBan, por exemplo, pretende reforçar a oferta de outsourcing durante o Ciab 2006 (veja mais detalhes sobre o evento à página XX), informa Lisias Lauretti, CIO da companhia.
Mais integrada e menos inovadoraIndependente de quais sejam as áreas prioritárias de investimento em TI em cada uma das instituições financeiras, um ponto comum, ao mesmo tempo, une e coloca desafio a todas elas: como retomar a postura inovadora da área de tecnologia. Na avaliação de Mauro Peres, da IDC, a situação da área de TI no segmento financeiro atual é oposta à vivenciada até a década de 90, quando o departamento era pouco interligado às áreas de negócios.
Essa falta de vínculo, na avaliação do executivo, trazia uma liberdade a mais de fazer coisas novas. “A partir do momento em que a TI passou a ser questionada como área estratégica de negócios, acabou comprometendo o fator inovação”, ressalta.
Tal fato também é reconhecido pelas próprias instituições financeiras que responderam ao estudo da consultoria. Entre os 35 bancos entrevistados, mais da metade declarou que não teve projetos capitaneados pela área de tecnologia no ano passado e nem pretendem ter em 2006. “Será necessário resgatar ações balanceadas nos próximos dois anos, de maneira a dosar a necessidade de integração com a área de negócios e o espírito inovador”, conclui Peres.