terça-feira, julho 04, 2006

Receita de filme infantil vai além das bilheterias

Fonte: Valor Econômico


A superprodução da Disney/Pixar que conta a história de Relâmpago, um simpático e ambicioso carro de corrida que se perde a caminho da Califórnia, teve sua estréia ofuscada pela antipática apresentação da Seleção do Brasil na Alemanha. Mas, se a bilheteria de 313 mil espectadores no primeiro fim-de-semana ficou abaixo das expectativas - é praticamente a metade de outros sucessos do estúdio, como Nemo e Os Incríveis - a venda dos brinquedos do filme está superando até as metas mais otimistas.

Prejudicado pela Copa, no primeiro fim de semana, o filme Carros recebeu investimento de US$ 5 milhões no Brasil No varejo brasileiro, alguns itens sumiram das prateleiras antes mesmo da estréia do filme, na última sexta-feira. A Mattel, que fez uma negociação mundial com a Disney, precisou aumentar a capacidade de produção das suas fábricas do leste asiático, como China e Tailândia, para atender à forte demanda pelas réplicas dos carros retratados na animação. A Mattel brasileira já fez novos pedidos de importação e aumentou os volumes previstos inicialmente. A Copa atrapalhou o lançamento do filme, mas Carros é o típico exemplo do sucesso que um filme pode fazer fora das telas.

O negócio das animações infantis vai, cada vez mais, além das bilheterias. A concorrência entre os estúdios aumenta nas férias de julho - neste ano há quatro grandes lançamentos - e a disputa com os produtos pirateados. "Antecipamos a campanha em quinze dias. Um mês antes da estréia do filme, já tínhamos outdoors espalhados e toda a mídia na rua", diz Eduardo Rosemback, diretor de marketing da Walt Disney Brasil. "A concorrência está muito apertada". Os brinquedos começam a chegar ao varejo até dois meses antes da estréia do filme. "Uma gôndola com o brinquedo do filme tem a força de um comercial de TV." No Brasil, o filme Carros, orçado em US$ 70 milhões, recebeu investimento de R$ 5 milhões apenas da Disney - essa cifra não contabiliza o investimento nos canais de TV próprios ESPN, Disney Chanel e Jetix. Incluindo o investimento dos licenciados, esse valor deve chegar a R$ 12 milhões. O investimento da Disney incentiva os produtos licenciados e vice-versa. "Quanto mais se junta as forças, melhor é e todo mundo sai ganhando", afirma Ricardo Wako, gerente de marketing da Mattel. Além da fabricante de brinquedos, mais de dez empresas fecharam parceria, entre elas C&A, Riachuelo, Grow, Mc Donald's e Claro. "Carros é o maior produto licenciado da nossa história", diz Rosemback. O varejo confirma o sucesso. Para o diretor comercial da Ri Happy, Ricardo Sayon, o filme Carros é "a sensação do momento. Os produtos do filme chegaram nas lojas da rede de brinquedos há cerca de dez dias e metade já foi vendida. "Já tivemos que repor produtos." A fabricante de meias Lupo está entre as empresas que apostaram no filme. Ela detém a licença de todos os produtos da Disney para meias, cuecas e calcinhas. "Decidimos fazer um licenciamento especial do filme", diz Valquírio Ferreira Cabral, diretor comercial da Lupo. O executivo estima receita de mais de R$ 1,5 milhão até o fim do ano.

Outro clássico que chega às telas brasileiras no próximo dia 14, justamente para evitar a concorrência com a Copa, é "Superman - o Retorno", da Warner Bros. Tido como um dos filmes mais caros da história, com orçamento de US$ 267 milhões em sua produção, o título faturou US$ 84 milhões nos primeiros cinco dias de exibição nos EUA, um recorde e um empurrão providencial para a Warner. Sem tanta exposição na mídia, os brinquedos ainda não decolaram como Carros. Os produtos relacionados ao filme - entre 30 e 40 itens - estão nas lojas há cerca de uma semana. "As vendas devem decolar assim que a Warner começar a divulgar o filme", afirma Sayon, da Ri Happy. A Mattel deve dar um empurrãozinho. Pela primeira vez, vai à TV aberta para anunciar licenciamentos - sempre investiu na linha própria, como Barbie e Hot Wheels. Escolheu justamente os blockbusters "Carros" e "Superman" para seu primeiro investimento. Os cinemas ainda contarão, este mês, com a estréia de "Os Sem Floresta", da Dreamworks e "Piratas do Caribe, o Baú da Morte", também da Disney - sem grandes contratos até o momento. Mas quem promete agitar o mercado, mais uma vez, é a estréia em DVD de "A Era do Gelo 2", da Fox. Amanhã, o Brasil será o segundo mercado a lançar o filme (maior bilheteria de um desenho animado no país) depois do México. Ambos estão na frente dos EUA, que só lança em outubro.

Segundo o diretor de vendas da Fox, Herbert Viana Andrade, serão colocadas no mercado 500 mil unidades e a expectativa é que 60% disso seja negociado no primeiro mês. Nessa segunda fase, o filme conseguiu novos contratos de licenciamentos com empresas como Duracell , Pepsico e Lexmark - além dos dez contratos fechados no lançamento do filme. A Redibra, empresa que negocia os direitos de licença em nome da Fox, acredita num aumento das vendas nessa segunda fase. Primeiro, porque muita gente vê o filme pela primeira vez em DVD. Além disso, diz David Diesendruck, da Redibra, "as crianças assistem muitas vezes o mesmo filme, criando um laço afetivo forte com os personagens e, depois, a distribuição do filme será feita nos mesmos locais onde os produtos são vendidos, estimulando a compra."