Fonte: Forbes Brasil
Ponto para o Brasil na Copa da globalização. Ainda que seja uma conquista relativa. A boa nova é que a Eastman Kodak anunciou que vai fabricar câmeras digitais em Manaus (AM). A relevância do anúncio está no fato de que a empresa só produzia esse tipo de equipamento na China. A notícia acompanha o crescimento das vendas desse produto no País. E nessa área, a principal tendência é o aumento das compras de câmeras digitais na classe C.
Cerca de 2 milhões de câmeras digitais foram vendidas em 2005 e a previsão é de que esse número chegue a 3 milhões em 2006. A penetração das digitais saltou de 0, 5% em 2003 para os atuais 6% do mercado brasileiro. A expectativa dos executivos da Kodak é que chegue a 12% até o final deste ano e a estratégia da empresa é ampliar a participação nesse mercado.
O modelo escolhido para ser montado no Brasil é o C360 — uma máquina com 5 megapixel de resolução — e a operação será feita por um parceiro, a Jabil do Brasil. A C360 cairá dos atuais R$ 1. 299 para R$ 899, principalmente devido às vantagens da Zona Franca de Manaus. Os investimentos não foram revelados.
“O Brasil é o maior mercado de câmeras digitais da América Latina e representa 45% da região”, revela Fernando Bautista, diretor-geral da Divisão de Fotografia da Kodak Brasil. A fabricante já analisa linhas de montagem em outros países. O desenvolvimento dos produtos atualmente está concentrado no Japão.
É aí que reside o ponto que ainda vale a pena ser discutido. É indiscutível a importância de unidades como essa da Kodak no Brasil. Mas ainda é pouco. Afinal, quem não lembra das maquiladoras, fábricas que apenas montam produtos e que ficaram famosas no México. Elas impulsionaram as exportações do país, mas os críticos lembravam que havia pouco valor agregado no que era produzido. Quando a China se fortaleceu na manufatura, o México foi um dos países que mais acusaram o golpe.
A questão é quando mais commoditizado for o produto, menos o país vai estar protegido de eventuais mudanças no ambiente global. No caso de commodities agrícolas, o Brasil está bem escolado dos altos e baixos que costumam acontecer. Mas o mesmo vale para qualquer produto em que o valor agregado seja baixo. No caso da Kodak, a montagem das máquinas ainda deve depender quase que completamente de material importado. Na prática, Manaus vai servir apenas como um local de montagem.
Evidentemente, há mais valor nesse segmento do que na venda de soja ou açúcar. Mas é indispensável subir alguns degraus nessa escada. A condição atual, por exemplo, ainda vai impedir que a C360 seja exportada para o Mercosul. Os executivos da empresa afirmam que estudam como vão fazer para aumentar o nível de nacionalização.
O caso é que este é um momento estratégico para o Brasil. A Kodak — e o próprio mercado — passam por um momento de transformação. Eles deixam de vez os produtos analógicos e migram para o segmento digital, com novos componentes, softwares e um cadeia de valor que ainda está em formação.
A Kodak luta para sobreviver em um mercado que chegou a ignorar, quando resistiu a deixar o foco das câmeras analógicas e filmes fotográficos. Mesmo considerando ter sido a pioneira a lançar o primeiro protótipo de câmera digital em 1976. A empresa recebe direitos de todos os fabricantes de câmera digital e celulares que usam o recurso de tela. Isso não a impediu de ficar para trás na corrida pelo novo mercado. Enquanto isso, perde espaço no convencional, com queda de 25% na venda dos filmes fotográficos. “Agora compartilhar as fotos é mais importante do que imprimir. Isso faz uma diferença quântica na nossa indústria. ”
No Brasil, a Kodak já conseguiu recuperar boa parte do espaço perdido e tem hoje 20% do mercado de digitais. Uma das razões para a retomada é que o País está cerca de 2 anos atrasado em relação aos mercados desenvolvidos nesse segmento. Atualmente, a venda de digitais e analógicas já empatou no mundo. Por aqui, a nova tecnologia ainda representa 30% das vendas. Cerca de 37% das casas ainda têm máquinas convencionais. E 8% já são usuários de equipamentos digitais, o que representa cerca de 12 milhões de pessoas no Brasil.
O Brasil pode ser atropelado ou tirar proveito desse processo. Em 2005, a Kodak fechou uma fábrica de papel fotográfico em São José dos Campos e demitiu 380 funcionários. A inauguração da produção de câmeras fotográficas agora pode ser considerada um empate. No resto do mundo, a reestruturação do grupo Eastman Kodak rumo ao segmento digital já implicou o fechamento de unidades de produção e laboratórios nos Estados Unidos e mesmo na China. É um sinal de que este não é um jogo simples, em que a mãode- obra barata protege de qualquer ameaça. Agora, o País tem a oportunidade de evoluir nesse jogo. Se avançar mais, disputa não com a China na manufatura, mas com o Japão, que atualmente concentra o desenvolvimento dos produtos da Kodak.
De 8 a 11 de agosto, as mais importantes empresas da área de tecnologia de imagem e fotografia estarão presentes ao PhotoImageBrazil, uma feira internacional que será rea-lizada no Centro de Exposições Imigrantes, em São Paulo. Panasonic, HP, Canon, Kodak, Fuji, Noritsu, Olympus, Elgin e Sony já confirmaram a presença. Entre os lançamentos, a Extralife vai apresentar seus cartões de memória com velocidade inédita de 120x , que viabiliza o processamento de 20 fotos por segundo. Esse cartão é compatível também com palm tops e é uma ferramenta de expansão de capacidades de armazenamento. A Samsung, por sua vez, atualizou sua linha de câmeras digitais, a Digimax, que começa a ser fabricada em Varginha (MG) e será apresentada na feira. A atração é o botão “E” para efeitos. Ele realça e coloca três ou quatro imagens em uma só foto.